Resenha Histórica

Nunca encontrámos resposta que nos desse certezas, nem que nos deixasse no caminho de uma resposta aceitável. Nos documentos encontrados, já todos lhe chamam Almoster. O mais antigo, a Inquirição de D. Afonso II, de 1220, diz-nos que, D. Sancho, deu ao Prior de Abiul a Albergaria de Almoster: “Prior Abíul acepit Albergariam de Almoster cum suis terminis que erat regalenga”. Deste modo, já durante o reinado de D. Sancho I (1185 - 1211) aquele terreno se chamava Almoster.
 
E o mesmo se diga, do documento de doação da Abadessa do Mosteiro do Lorvão, e, do compromisso, por ela tomado, de guardar os bens da Albergaria e Hospital, destinados aos pobres.
 
Parece, isto, levar-nos a admitir e, até' ser forçados a isso, ser a terra sobejamente conhecida e identificada, por tal nome pelo menos desde o século XI- XII.
No nosso trabalho, “Alvaiázere e Areias, duas Igrejas, duas 'Ordens Religiosas, um Convento”2, vimos que os Beneditinos, com largas probabilidades, terão chegado até ao Rego da Murta, indo até Lorvão, onde se terão estabelecido, seguindo ainda, até Arganil. Durante estes séculos, é provável, também, que as três casas, Arganil, Lorvão e S. Pedro do Rego da Murta, mantivessem contactos e inter-ajudas.
 
Dentro desta corrente de ideias, e provavelmente, de factos, pode admitir-se, que, entre Lorvão e S. Pedro do Rego da Murta, houvesse um espaço que pertencesse, como terreno de cultura, ou destinado a outras finalidades, ligado  administrativamente ao Mosteiro ou aos Mosteiros. Daí os árabes, que, sempre negociaram com os cristãos, o uso da sua religião, na ocupação dos seus templos e mosteiros, respeitassem também aquele terreno, a que foram chamando “do monasterium”. 
 
Como estávamos, ainda, nos restos do latim, com o declíneo para o latim bárbaro, e, na adaptação das línguas, fácil é aceitar, que, chamando-lhe “do monasterium ”, com a regularidade do uso, se lhe terá juntado o prefiço -al “almonasterium”, que pelo uso, muito cedo deu Almoster.
 
Ainda se não encontrou documentação sobre estes momentos, o que não quer dizer, que não existam.
 
O facto de Almoster nos aparecer ligada ao Lorvão, também não constitui embaraço, uma vez que o Lorvão se manteve com religiosos Beneditinos e S.
Pedro do Rego da Murta foi abandonado pelos mesmos monges muito tempo antes. '
 
Perante isto, será lícito rematar, afirmando que o nome de Almoster, está ligado ao mesmo nome latino, “monasterium”, e que o prefixo -al, lhe foi junto na época em que fomos ocupados pelos Árabes.
 
Que, a terra em si, tinha atractivos que chamavam à ocupação, não restam dúvidas. Como dissemos, era e é uma mancha de terra que do Nascente sobe pela serra fora, pelo poente delimita-se pelo Nabão, e, parece ser dividida, a meio, pela Ribeira de Almoster, que banha e fertiliza. 
 
A ribeira, tem sido o grande foco de atracções, a chamar o povo, a caminhar para ela. Tem água todo o ano, com a qual se regam os seus campos, destinados às culturas hortícolas e forrageiras, molhando as faldas da serra, o que as torna aprazíveís e fáceis de habitar, tornando, nelas, a vida muito agradável.
 
Para poente, oferece os seus campos em elevações suaves, a caminho do Nabão, dando ao homem a oportunidade de multiplicar as suas culturas, com o esmero das árvores de fruto.
 
Com estes predicados e dotes, não admira que o Homem a tenha visto, há milhares de anos.
 
Perto do cimo, onde seu vale quase se estrangula, na encosta voltada a Sul, o Homem do Ferro fundou um forno, onde purificou milhares de toneladas daquele metal, deixando aí grande montanha de escória, parte da qual, agora, foi removida para a instalação do Centro de Saúde, nesse local.
 
Perante isto, que é mais um convite, podemos avaliar, quanto o Homem seria aliciado ao seu contacto e à sua convivência, vendo que todas estas facilidades lhe ajudavam a resolver os seus problemas diários.
 
Ao tratarmos da evolução de Almoster, como nome, parece-nos ter-se dito o suficiente para podermos compreender como alguns bens de Almoster chegariam à posse do Mosteiro do Lorvão.
 
Porém, outros modos havia para se chegar à sua posse. Entre eles, os mais vulgares eram a compra, os legados e as heranças das monjas falecidas.
 
Mais tarde, os Monarcas regulamentaram estes modos de aquisição, mas foi em épocas tão tardias, que não tem interesse para nós, neste caso.
 
À época da aplicação do nome de Almoster, seria, provavelmente, o método de aquisição a posse pelo amanho, o esmero e o fazer produzir.
 
E terá sido, assim, que se formou aquele terreno, que pelo, muito uso do nome chegou até nós, criado pelos árabes e que eles chamaram e continua a chamar-se Almoster. 
 
ORIGENS
 
Almoster significa o mosteiro. Talvez um pequeno grupo de frades beneditinos, ligados ao Mosteiro de Lorvão, aqui vivesse para cuidar das terras a ele pertencentes. Sabe-se que o Mosteiro de Lorvão é anterior ao domínio muçulmano no território português. Em 734 o rei mouro de Coimbra, Aliboacem, isentou os frades de impostos e deu-lhes várias terras. Quem sabe se já vem desse tempo a posse de terras nestas paragens. A palavra ALMOSTER é uma mistura de árabe com latim, como ficou dito. Por isso deve ser desse tempo dos mouros.
Como os frades ajudaram Fernando Magno na reconquista cristã, as riquezas afluiram ao Mosteiro, contribuindo para o relaxamento da vida dos monges, a ponto de haver necessidade de ser dissolvido nos finais do século XII. 
D. Teresa, filha de D. Sancho I, acabou por instalar-se nele com outras senhoras e em 1811 o mosteiro ainda tinha o padroado com direitos reais em Almoster, Abiul e Santiago da Guarda, para só citar freguesias desta região. 
 
Albergaria
Documentos do século XII referem a existência de uma albergaria. As Inquirições mandadas fazer pelo Rei apuraram que ela tinha pertencido ao rei e que o prior de Abiul (isto é, o mosteiro: de Lorvão a que pertencia o dito prior) a havia aceite. Sabe-se que a posse de bens em demasia fez com que a vida do monges caísse em relaxe e o Mosteiro foi fechado. No Natal de 1200 o velho mosteiro começou vida nova, agora com freiras de Cister. E as freiras continuaram de posse destas terras de Almoster e também da albergaria. Até que no reinado de D. Afonso III esta albergaria e seus pertences voltou à posse da Coroa Real. Um documento daquele Rei, passado em Benfica, a 5 de Julho de 1266, está no Livro 11 da Extremadura, do Arquivo Nacional e relata a doação do rei a Fernão Pires daquela albergaria e todas as suas pertenças.
É provável que toda a zona do actual Casal da Rainha, e não só, pertencesse a esta albergaria. Assim se explicaria o valor atribuído à mesma. Informam-me que no Vale da Couda ainda há hoje o topónimo Albergarias. Sinal da existência de uma ou mais albergarias. Terrenos pertencentes à albergaria? Provavelmente sim.
Vários marcos de pedra têm aparecido  perto da Igreja Velha. Todos têm as iniciais C. R. . Talvez Casal da Rainha ou Couto Real. Pensa-se que teria sido aqui em algum tempo a dita albergaria.
 
Estrada Real
Não há dúvida que toda a região da Ladeia era atravessada, nos meados do século XII, por uma estrada que vinha de Coimbra para Tomar, passando pela região de Chão de Couce - Avelar. Mas a par desta , outras estradas havia, a que vários documentos da época fazem referência, e que faziam a ligação entre os povoados mais importantes. Por Almoster passava já naquele tempo uma estrada, a que as pessoas mais velhas ainda hoje chamam "Estrada Real", seguindo depois para Alvaiázere e Freixianda, com bastante movimento para justificar uma albergaria. O nome Gaita, por que ainda há poucos anos era conhecida uma região de Almoster (hoje Santa Cruz) denuncia  a passagem periódica de carruagens com pessoas e correio, cuja chegada era anunciada pelo toque duma gaita. Este nome gaita dado a localidades é frequente. Exemplos: Venda da Gaita junto a Tomar e o mesmo nome duma aldeia da freguesia de Pedrógão Grande; Casais da Gaita, localidade do concelho de Azambuja, e também aldeia do concelho de Lourinhã; Horta da Gaita, localidade do concelho de Arraiolos;  Quinta da Gaita, aldeia do concelho de Monchique.
Entre a Aldeia Nova e Santa Cruz há o topónimo Estrada Larga. O que pode referir-se à passagem da Estrada Real.   
 
Castelejo
O nome significa pequeno castro. Na Idade de Bronze ( dois mil anos antes de Cristo até 800 anos antes de cristo), as populações faziam as suas casas  em pontos altos, perto de água corrente, defendidas por muros ou defesas naturais.  A essas povoações dão-se os nomes de castros, castelejos ou castelos. Deve ser o caso. Água  havia  pelo menos no rio Nabão e numa ou outra ribeira fonte ali perto.
Com o tempo atreveram-se a descer dos montes e começaram a habitar em zonas mais propícias ao pastoreio e à agricultura.
É o caso da Macieira, Vale da Figueirinha, Vidoal, Cova, Vale da Clériga,Cheira, Galega e outras que falaremos à frente.
 
Fojo
Entre as diversas povoações da actual freguesia de Almoster, encontra-se a do Fojo que deve ter adquirido o seu nome duma caverna, cova ou refúgio que lá existia e que serviria para apanhar os animais que os antigos povoadores da região precisavam de comer e, quem sabe, também refúgio em casos graves.  A povoação de nome Castelejo, e que fica num alto ali próximo, deve ter sido a primeira a ser povoada e os seus habitantes aproveitavam o Fojo para o que foi dito acima.
Neste lugar havia, ainda há dez anos, uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora da Penha de França, que o fogo devorou e se encontra em ruína, como a imagem que juntamos denuncia.
 
Barrocas
Perto do Fojo havia a povoação das Barrocas, cujo nome denuncia a existência de covas profundas e que estará, quem sabe?, na origem do nome dado àquela zona de Fojo. Por outro lado, há ainda uma pequena localidade a que o povo chama Cova.
-Casal Velho, Casal do Mouco, Casal de Além
Casal Velho é mais uma povoação que se encontra abandonada, perto do Fojo e Santa Cruz. Quando os romanos conquistaram a Península obrigaram os seus habitantes a pagar imposto, mesmo os que se mantinham teimosamente em cima dos montes. Havia pois de arranjar mais que o sustento próprio e da família. Os novos donos  queriam toda a gente a trabalhar. As terras agora tinham alguém que mandava. E ai de quem não obedecesse!
Um soldado romano aposentado, um imigrante italiano – melhor dizendo, romano –  ou mesmo um lusitano romanizado tomou conta das terras e toda a gente tinha de trabalhar para ele. Em muitos casos esses  campos eram trabalhados por pessoas que pagavam  uma renda ao senhor das terras. Para escoar os géneros foi construída já nesse tempo – há mais de mil e setecentos anos – uma formidável rede de estradas, que subsistiram iguais quase até aos nossos dias. 
Os nomes Casal Velho, quem sabe se do Velho, Casal do Mouco ou Casal de Além  denunciam um povoamento muito antigo mas também muito disperso. Talvez morasse nesse casal o que se encarregava de dirigir o trabalho das terras e de recolher as rendas. Os trabalhadores morariam em pequenas habitações ou palhotas em seu redor.
O correspondente a Casal é, no tempo dos romanos, a vila (rústica), e no dos mouros Aldeia. Casal é do tempo da nacionalidade portuguesa.
 
Ariques
Em 411 entraram no nosso território os bárbaros. O povo recebeu-os sem se lhes opor porque os via como ocasião de se libertar dos romanos. Mas os bárbaros e mais tarde os mouros acabaram por substituir os antigos donos. O povo continuou a não ser proprietário das terras que trabalhava.
Será o nome do senhor das terras do tempo dos bárbaros este Ariques. Talvez nome germânico.
O Santiago de Ariques deve ter origem na Idade Média, com a grande devoção e as peregrinações a Santiago de Compostela.
 
Couda e Vale da Couda
Junto à  estrada de Almoster - Alvaiázere temos as povoações Casal da Rainha, que deve aludir a propriedade de alguma soberana, e Vale da Couda. São lugares ainda hoje razoavelmente povoadas , abaixo da encosta da Serra Pequena e do cabeço chamado Couda, cujo nome deve fazer alusão à sua morfologia. Talvez do latim "cutina" que deu a palavra côdea. Este cabeço fica a cerca de 240 metros acima do nível do mar.
No Vale da Couda viveu uma família nobre, cuja casa actualmente está desabitada e em mau estado. Ver foto junta. No cemitério de Almoster está sepultada uma senhora dessa família, chamada Madalenha de Mascarenhas Vellasques Sarmento e de Alarcão, cuja lápide refere que faleceu na sua casa de Vale de Couda, em 30 de Maio de 1877. 
 
Casa de Vale da Couda
Era filha de José de Mascarenhas Vellasques Sarmento e de Alarcão e de dona Maria Lucina Monis de Gouveia Rangel. A lage refere o seu nascimento em 16 de Agosto de 1795, com baptismo na Igreja de S. Miguel de Penela, onde viveria a sua família, mas com bens aqui nesta povoação de Vale da Couda e talvez arredores.
 
Candal, Bouchinhas e Dedona
Na outra encosta do aludido cabeço chamado Couda, encontram-se as povoações de Candal e Bouchinhas, para além de uma outra, actualmente sem habitantes, 
chamada Dedona. 
 
Existe ainda aqui uma boa casa que deve ter sido de gente de posses, talvez das chamadas Donas que deram nome ao lugar - Dedona. Ver foto junta. Uma zona ali perto é mesmo conhecida por Outeiro das Donas. Outrora só se chamava  Dona à senhora fidalga de teres e haveres. O nome Candal deve referir-se à morfologia do terreno, em declive e pedregoso. Ali perto fica um cabeço chamado Pedregosa.
Há várias terras com o nome de Candal no país. Entre elas:
- Nome de uma das freguesias do concelho de São Pedro do Sul;
- localidade do concelho de Santa Maria da Feira;
- localidade do concelho de Lousã;
- localidade do concelho de Gouveia; 
- localidade do concelho de Vila Nova de Gaia;
- localidade do concelho de Chaves;
- localidade do concelho de São Pedro do Sul:
 
Casa de Dedona
Com o nome de Bouchinhas ou Bouxinhas não conheço mais nenhuma povoação no país. Este nome deve vir do diminuitivo de  Boucha que significa terreno onde foi roçado e  queimado o mato para depois o lavrar e agricultar. É normal que os habitantes da zona alargassem os seus terrenos de cultura, pois estes eram necessários em face do  aumento populacional.
 
Conforme escrevemos no primeiro destes artigos sobre a história de Almoster, em Bouchinhas têm aparecido restos de civilizações antigas. E como veremos à frente o sítio tinha condições ideais para ser povoado, pois ficava num alto e tinha nascentes por perto.
As placas têm a escrita de Bouchinhas com x, mas na igreja tem-se usado a escrita deste nome com ch, mais de acordo com a raiz da palavra.
 
Quinta dos Ciprestes, Lameiras e Vale de Água
Do outro lado da encosta do cabeço de que falámos atrás, e a caminho da Quinta dos Ciprestes, existem as Lameiras e o Vale de Água, cujos nomes denunciam a abundância daquele líquido, que torna esta zona muito fértil para a agricultura e floresta. Não consta que aqui houvesse casas.  Mas os habitantes desta zona - Candal, Bouchinhas e Quinta dos Ciprestes, etc. - tiveram aqui uma fonte de recursos para a sua sobrevivência. A Ribeira das Bouchinhas nasce nesta zona.  A Quinta dos Ciprestes para além destes recursos hídricos, conta também com a Ribeira de Almoster. O que torna esta zona muito rica para a agricultura.
 
Pechins e Mouta
Perto do Rio Nabão, no sul da freguesia de Almoster, encontra-se o lugar de Pechins. Um nome estranho que o Padre Jacinto Nunes, Pároco de Pussos e Rego da Murta, acha que vem de peixe. Baseia esta sua opinião em dois factos:
1. Toda esta zona foi outrora mar. O que cientificamente está correcto. O lugar da Banhosa, da Freguesia da Pelmá e ali bem perto, teria mesmo sido uma cidade romana chamada Sellium. O seu nome provém de ser estância balnear. 
2. O falecido Padre jesuíta Abel Guerra "viu" através dum mapa e dos seus conhecidos dotes extra-sensoriais a existência de dados arqueológicos que confirmam o que foi dito atrás.
Sem pôr em causa nenhum destes argumentos, penso que é mais provável que o nome Pechins venha  de pichis que é o nome de plantas medicinais de propriedades diuréticas. Esta palavra está mais próxima de Pechins do que peixes. Mas não repugna aquela opinião, não por esta zona ter sido mar, o que já lá vai há milhões de anos, mas porque ali passa perto o Rio Nabão e outrora o nível friático poderia fazer com que sempre tivesse água para os peixes sobreviverem.
 
Já o lugar Mouta ou Moita, hoje com poucos habitantes, tem um nome muito usado em todo o país, que significa tufo de plantas arborescentes. Este lugar fica também perto do Nabão, entre Ponte Nova e Pechins.